Silêncio é um livro que foi escrito pelo autor cristão japonês Shusaku Endo que viveu de 1923 até 1996 e retrata a história parte ficcional parte verídica de dois padres jesuítas portugueses, Rodriges e Garupe, em sua ida ao Japão para ajudar os cristãos, cuja religião era perseguida pelas autoridades nipônicas e também para descobrir a verdade sobre a noticia de que o mestre deles, padre Ferreira, teria apostatado, ou seja, renunciado a fé.
A leitura não é difícil, apesar do tema abordado, e o livro não é longo, é até curto para quem está acostumado a ler, por exemplo, As Crônicas de Gelo e Fogo de George R.R. Martin com suas “bíblias”, porém é necessário determinado cuidado para se absorver tudo, não ter uma leitura atropelada por assim dizer.
O livro causou polêmica e debate e causa discussão até os dias de hoje, tanto que este é um dos romances contemporâneos mais importantes do Japão. Isso porque não é uma simples história de perseguição, intolerância e crueldade contra indefesos e inocentes, vai além disso, discute orgulho, o que é a religião e a fé, questionamentos, culturas, valores, realidades diferentes e até onde ir com ela.
Silêncio não é como 12 Anos de Escravidão ou A Lista de Schindler que conta uma história de opressão, retrata a violência, barbárie e tortura daqueles tempos infringidos a um determinado grupo de pessoas. Poderia seguir a mesma formula, só que com os cristãos no Japão. Mas ao invés disso essa perseguição é usada para refletir sobre os temas já citados, além de perda de fé e espiritualidade.
Não só isso como também a ideia de universalização. Questionar se mesmo um valor que seria igual para todos, é visto ou sentido de forma igual para pessoas diferentes.
Pessoas religiosas ou não provavelmente irão se perguntar o que fariam na situação desses personagens, pois uma das coisas que nos são mostradas em Silêncio, é que é fácil ser alguém dito bom em tempos bons, mas em tempos ruins, a história é outra. Especialmente em tempos que não temos nada nem ninguém para nos auxiliar e somos deixados no silêncio.
A história fica mais interessante ainda quando percebemos que várias partes e elementos do livro são verdadeiros ou existiram de verdade. Padre Ferreira de fato existiu e realmente apostatou depois de uma longa sessão de tortura. Rodrigues foi baseado na figura de Giuseppe Chiara.
A obra foi adaptada para os cinemas pelas mãos de Martin Scorsese, que possui um nível de fidelidade com o livro espantoso. Personagens são muito bem interpretados pelos atores hollywoodianos e bastante conhecidos Liam Neeson (Star Wars: A Ameaça Fantasma e Busca Implacável), Andrew Garfield (A Rede Social e Homem Aranha) e Adam Driver (série Girls e Star Wars: O Despertar da Força) assim como os japoneses Tadanobu Asano (Thor), Issei Ogata (As Coisas Simples da Vida), e Yôsuke Kubozuka.
A adaptação cinematográfica se tornou fiel ao livro também graças a esses atores que souberam como mostrar os dramas, pensamentos e atitudes de seus personagens. Há de fato algumas cenas diferentes, mas irrelevantes ao ponto de poder-se dizer que a história é a mesma, mesmos diálogos, passagens, somente o final que Scorsese muda algo. Onde o livro termina, ele continua a história, o que acaba complementando a obra.
O roteiro é praticamente o mesmo em ambas as mídias e até a estrutura é muito similar, com narrativas em off tais quais os pensamentos do personagem Rodrigues, que pode ser considerado o protagonista, quando ele se vê diante de certas situações e põe-se a pensar e questionar.
E todas as ideias e reflexões do livro estão ali na grande tela. Acabei por me pegar após a leitura do livro e assistido ao filme pensando mais sobre fé, religião, do que a perseguição em si ou algo que pode irritar algumas pessoas, o fato dos padres jesuítas da história são portugueses, estarem supostamente dialogando com os japoneses em português, mas estão falando em inglês.
O filme, apesar da boa recepção da crítica especializada de modo geral, foi apenas indicado ao Oscar de melhor fotografia em 2017 e quase nunca vejo as pessoas comentando sobre ele ou sobre o livro. Uma pena.
Colunista: Walter Niyama é estudante de jornalismo, tem 21 anos, escritor e autor de “Guardiões de Sonhos – As Portas dos Pesadelos” e “O Mistério dos Suicidas”.