Texto contém spoilers: Mesmo hoje, com 22 anos, ainda tenho boas lembranças dos desenhos animados que eu assistia quando criança. E todos os dias eu via a Nickelodeon e seus desenhos como Rugrats, Bob Esponja, Rocket Power, Os Thornberrys, CatDog, e por aí vai. E é claro, A Vida Moderna de Rocko.
Atualmente as empresas de entretenimento estão apostando na nostalgia e na lealdade dos fãs. Seja expandindo universos como Animais Fantásticos, recontando as mesmas histórias de um jeito diferente como os live-actions da Disney, e é claro que a Nick não iria ficar atrás. Tanto que em 2017 foi lançado “Hey Arnold! Na Selva”, filme em que Arnold e sua gangue voltam para mais uma história, e dessa vez é a busca decisiva para encontrar os pais do garoto de cabeça de bigorna.
Mesmo gostando muito de Hey Arnold, eu achei o filme apenas “ok”. Foi legal rever a gangue do Arnold, o pessoal maluco da pensão dos avós dele, mas a qualidade da história achei menor comparada a média dos episódios da série. Então não sabia muito o que esperar de Rocko, que era um desenho que eu gostava menos até.
Uma produção que ainda correu risco de não acontecer, mas que foi assegurada pela Netflix, que de quebra ainda pegou para si o especial de Invasor Zim. Quando o trailer do filme do Rocko foi publicado na internet, percebi que era algo bem planejado.
Para começar, logo nos é explicado que Rocko, Vacão e Felizberto ficaram 20 anos no espaço (a série terminou em 1996) e agora eles conseguiram voltar para a cidade de O-Town. Já vemos aí que o criador Joe Murray não iria simplesmente fingir que nada de novo aconteceu.
Observamos no trailer que. enquanto Vacão e Felizberto estão maravilhados com a tecnologia e o mundo atual, Rocko não consegue parar de pensar no passado, e em seu desenho favorito que foi encerrado enquanto estavam fora do planeta.
Eu preciso dizer, quando criança, A Vida Moderna de Rocko me parecia só um desenho bobo sobre animais falantes e piadas com coisas como pum. Apenas anos depois, revendo alguns episódios, vi as críticas sociais, as piadas de duplo sentido e as conotações. Não à toa Rocko se tornou um clássico cult.
E o legal do filme é que isso tudo está nele, sem falar da própria análise e reflexão que “A Vida Moderna de Rocko – Volta ao Lar” faz consigo mesmo. A questão de trazer antigas histórias de volta, os grupos de fãs, animação clássica vs computação gráfica, a qualidade de um reboot ou remake, e principalmente, a questão sobre o passado, tudo isso é levantado com o próprio Rocko.
Ultimamente na internet houve várias discussões de nerds e fãs por causa de obras do passado trazidas para o presente e que mudaram. Tivemos isso com She-Ra, Thundercats, Teen Titans, Meninas Superpoderosas, e isso só falando de desenhos animados.
Pode-se criticar um produto pelo que ele é, mas muitas pessoas criticaram logo de cara produções ao verem que seria algo com o qual não estavam acostumadas. Afinal, esses personagens são partes importantes da infância/adolescência delas. Falo isso não para os que apenas falaram “meh, preferia o anterior”, mas para os que ficaram mais exaltados.
E a mensagem final do filme é sobre ser grato ao passado, mas entender que as coisas mudam, nada é permanente, e devemos abraçar o presente. Isso não só se tratando de desenhos, mas sobre a vida mesmo, como Ed Cabeção aprendeu. A obra faz isso sem deixar de mostrar seu carinho aos fãs e respeito por eles. Por isso, posso dizer que minhas expectativas foram atendidas.