Um crime ocorrido em um país prestes a explodir em caos, um milagre que desafia a ciência e um amor quente e incerto. Esses são os principais elementos do romance de Domingos Amaral, Verão Quente. Na história, estamos na pele do protagonista que narra tudo em primeira pessoa. Através dele e de seus pensamentos e reflexões conhecemos duas mulheres: Julieta, uma mulher de meia-idade cega, e sua filha, a jovem e linda Redonda.
Ele as conhece em um resort que está perto de águas que dizem serem curadoras. E incrivelmente Julieta volta a enxergar. A enxergar em um mundo bem diferente do que ela estava acostumada. Ela ficou cega em 1975 durante o Verão Quente, período em que a ditadura Salazar e os fascistas caiam em Portugal, mas as forças de esquerda e comunistas não pareciam querer frear seus ímpetos. Julieta foi para a casa de férias da família na Arrábida.
Na casa estão sua irmã Madalena, uma hippie que contraria completamente as ideias do pai, empresario rico grande apoiador do Estado Novo de Portugal, e seu marido, Miguel. A mulher deixa sua filha Redonda, um bebê que não parava de chorar por conta da febre, no carro e entra na casa. A versão oficial da polícia diz que Julieta encontrou sua irmã e o esposo na cama em adultério, pegou a arma do pai no escritório, os matou e então se atirou da escada para se matar, mas acaba sobrevivendo após superar o coma e fica cega.
Julieta nega que tenha cometido o crime, passa anos na cadeia e só anos depois consegue a liberdade e mais tempo depois consegue rever a filha, já adulta. Nosso protagonista se interessa tanto por Redonda, bela e que parece sofrer com um marido possessivo e ciumento, mas também pela mãe, Julieta.
Ele realmente acredita que possa ter havido uma injustiça e, com o pretexto de que pretende escrever um livro sobre o caso, começa a investigar. A história flui muito bem enquanto acompanhamos tudo pelos olhos do protagonista que não nos omite nada sobre seus julgamentos e sobre suas indagações.
É uma boa história e a ambientação também, ora na Portugal atual, ora na Portugal do Verão Quente. Não é preciso conhecer a história do país europeu para aproveitar a narrativa, ela é muito clara e didática, mas faz isso sem prejudicar o ritmo da escrita.
Verão Quente é uma ótima leitura.
Colunista: Walter Niyama é formado em Jornalismo pela ESPM-SP. Além do Nerdssauros também escreve para o Converge-Jornalismo. Também é autor de três livros publicados: O Mistério dos Suicidas; Guardiões de Sonhos – As Portas dos Pesadelos; e Anos Atrás – Uma História de Santiago Valentim.